Emanoel Ferreira
Desde 1929, o mundo já viveu, pelo menos, 13 outras grandes crises, como aquela causada pelo embargo do petróleo no conflito árabe-israelense (1973) e a crise dos gigantes asiáticos (1997). Todas tiveram mais ou menos o mesmo tipo de danos: desestabilidade das moedas nacionais, aumento de desemprego e, em muitos casos, instabilidade política. A que vivemos agora, contudo, traz um ingrediente diferente e positivo, como aponta Alessandro Leal, diretor de negócios do Google Brasil.
“Nossa base atual é completamente diferente da base de todas as outras crises pelas quais nós passamos: o acesso à tecnologia. Com certeza, esta é a primeira crise da história na qual a tecnologia está disponível para todo mundo. Nas outras, só contava com aparatos tecnológicos nos negócios quem tinha muito dinheiro, plataformas no exterior e capacidade para escalar operações”, analisa o executivo.
A fala de Alessandro Leal não preconiza uma igualdade absoluta de condições diante da depressão econômica – é claro que, independentemente dos prejuízos, grandes empresários ainda detêm o privilégio de condições mais favoráveis para reunir fôlego e superar os obstáculos impostos pela crise. Nesse sentido, estamos lidando com uma lógica que, em nada, parece-se com algo novo ou nunca notado.
Leal aponta, porém, que, graças à tecnologia e de forma inédita, os meros mortais também têm uma chance de superar tempos tão difíceis. Mas não uma chance qualquer: em 2014, o mercado de startups já movimentava quase R$ 2 bilhões. Em 2015, mais de R$ 3,5 milhões foram investidos apenas em oportunidades geradas pelo StartSe, um entre vários ecossistemas de startups do país. No início deste ano, o Mercado Livre, nossa maior comunidade de compra e venda on-line, anunciou um investimento que supera US$ 10 milhões em startups espalhadas pelos 16 países em que já atua.
“A economia não é mais um negócio abstrato. Vivemos hoje a ‘we economy’. Ou seja, nós fazemos parte. E se não fizermos nada, ainda estaríamos participando? Sim, porque enquanto não fazemos nada, outros fazem e lucram em cima de nossa inércia”, diz o executivo da Google Brasil.
Dividir sim, acumular não
Alguns dos negócios que mais têm crescido neste tempo de crise econômica navegam, em menor ou maior grau, nas ondas da economia colaborativa. Um grande exemplo desse modelo é a nova versão do aplicativo Uber para caronas, que conecta pessoas que necessitam de carona a pessoas disponíveis para oferecê-la. O motorista ganha, porque gera receita com um veículo antes ocioso; e o passageiro também, já que chega ao seu destino com rapidez e conforto.
No fim das contas, a ascensão desse modo de pensar os novos negócios faz todo o sentido, sobretudo em tempos de crise. Trabalhar com estratégias que privilegiam reaproveitamento ou divisão ao invés de novas aquisições ou acúmulos é um caminho lógico quando se tem recursos limitados.
Fruto da crise econômica?
O estudo The Sharing Economy, da consultoria PwC, realizado nos Estados Unidos e publicado em 2015, aponta que a receita mundial anual da economia colaborativa passará de US$ 15 bilhões, em 2014, para US$ 335 bilhões, em 2025. Uma das muitas questões que surgem neste momento é: até que ponto o crescimento da economia colaborativa é fruto da crise econômica e até que ponto é fruto de uma mudança mais profunda no perfil de consumo? Bárbara Fam está convencida de que a crise responsável por isso não é a econômica, mas a de modelos.
“A economia colaborativa se tornou possível frente ao advento de mudanças sem precedentes no mundo, que emergiram com a tecnologia. Ela ganhou força justamente no ano de 2008, quando começávamos a viver uma grande recessão, com a prática da colaboração e do compartilhamento propiciando a redução de custos. Esse modelo, todavia, cresce independentemente do cenário econômico, já que nos mostrou outros modos de viver e consumir, estando por isso em constante ascensão. Agora, importa menos a posse do bem em si, e mais a experiência que ele agrega. Isso indica que vivemos além de uma crise econômica e política. Vivemos uma crise de modelos, os quais foram hegemônicos por muito tempo”, argumenta.
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