Um pesquisador que voa alto

Professor Marcello Bax acredita na aproximação entre universidade e mercado para estimular a inovação e agregar valor ao conhecimento. Confira a entrevista!


Ana Carolina Bicalho e Cecilia Kruel

Gerar, ensinar e transferir conhecimento. No tripé que sustenta a base do papel social da universidade, aplicar os ensinamentos da academia significa completar um ciclo. Em 1997, Marcello Bax, professor da Escola de Ciência da Informação da UFMG, deu o primeiro passo para transformar o conceito da Inteligência Artificial em algo tangível para a sociedade. Alvo de anos de pesquisa em seu mestrado, na Université d’Aix Marseille II; e no doutorado em Informática, Análise de Sistemas e Tratamento de Sinal, pela Université de Montpellier II; o tema originou um sistema inovador de análise de crédito.

O software foi patenteado e se tornou o principal produto da então nova empresa de Bax, a Paradigma Internet. A experiência levada da academia para o mercado rendeu bons frutos para ambos os lados e levou a empresa a fazer parte da incubadora Inova UFMG, em 2003. O projeto atrai alunos e professores da instituição que têm a perspectiva de abrir o próprio negócio, contribuindo para estreitar a relação entre a universidade e o mercado.

Depois de quatro anos incubada, a Paradigma cresceu e ampliou suas frentes de inovação para as áreas de gestão da informação e sistemas e prontuários médicos. Hoje, o pesquisador atua no empreendimento como conselheiro, assessorando projetos e ideias estratégicas. A maior parte do seu tempo continua dedicado às aulas ministradas na universidade. “A empresa, para mim, é um grande exercício de aplicação do conhecimento que procuro desenvolver na universidade”, destaca Bax.

Em entrevista à Revista Inforuso, o pesquisador falou sobre o conceito de gestão da informação e o estímulo da academia à inovação e ao empreendedorismo.

Revista Inforuso: Qual é o papel da universidade no processo de estímulo à inovação para o desenvolvimento social?

Marcello Bax: Esse papel passa por uma confusão absoluta, pois há uma grande confusão sobre o que é inovação. Eu estava vendo uma palestra e fiquei surpreso com o conceito de inovação que sugeria proteção feita cedo demais. O palestrante chegou a dizer que o pesquisador, antes de publicar um paper, deveria pensar na patente do conhecimento. Isso é complicado. Tudo bem a universidade pensar nisso, pois gerará riqueza para a sociedade. Mas, se patentear uma ideia cedo demais, o conhecimento não vira inovação, pois ele não cresce.

RI: Isso gera um conflito ético entre o trabalho do pesquisador acadêmico e a realidade do mercado?

MB: Separo claramente conhecimento de inovação. Quando você está com a missão da universidade pública de gerar, ensinar e transferir conhecimento, que é o tripé da universidade (ensino, pesquisa e extensão), não existe aí a função de gerar riqueza. Pelo menos, não diretamente. A sociedade, as empresas e os agentes econômicos, sim, devem inovar com esse objetivo. Já a universidade pública é sustentada pelos impostos da sociedade. É uma questão social delicada ter empresas dentro do campus que não estejam em incubadoras ou parques tecnológicos de apoio à inovação. O agente econômico que está fora, no mercado, não pode competir com o público, que atua com alunos e recursos sociais. O concorrente quebraria.

RI: Então, qual seria o modelo para oferecer conhecimento e, ao mesmo tempo, inovar para gerar riqueza?

MB: Responder a essa pergunta é o grande desafio. Mas o círculo virtuoso todos conhecem: agentes econômicos, fora das universidades e em relação regulada com elas, na medida em que pagam impostos, geram riqueza, que é revertida, por exemplo, na contratação de mais pesquisadores ou na melhoria das condições de pesquisa que propiciam a geração de mais conhecimento. Esse conhecimento é, então, convertido em inovação pelos agentes econômicos, fechando o círculo. Assim, inovação não é, a meu ver, uma missão precípua da universidade. É, sobretudo, coisa para empresas. Além de muita vontade de empreender, envolve variadas competências que um pesquisador não possui e, via de regra, nem deseja. Essa me parece ser a intuição primordial por trás do modelo americano. E note que as melhores universidades de lá são privadas, o que aparentemente facilitaria a relação universidade e empresa. Mesmo assim, há sempre conflitos. Nos EUA, as regras que regem a relação universidade e empresa tendem a ser mais claras e explícitas. Aqui, falta essa visão explícita sobre como está regulada a relação entre empresa e universidade. Ou seja, para aquém da questão ética, há a falta de regulação legal. Não se tem, hoje, no Brasil um cenário seguro para aqueles que desejam inovar.

RI: Com o ensino acadêmico mais voltado para o conhecimento exclusivamente teórico, os alunos que saem das universidades públicas estão sabendo empreender?

MB: Existe, por parte da universidade pública e em diversas áreas, a preocupaçãocom o empreendedorismo. Ela é mais do que legítima, é fundamental.A universidade entende que são os pequenos e médios negócios que movimentam o Brasil ou qualquer país do mundo. São esses empreendimentos que oferecem emprego e riqueza para a maior parte da população, principalmente nos momentos de crise. Mas não seria bom que empreendimento e inovação acontecessem só nesses períodos. Empreender e inovar não deveriam ser vistos como uma contingência, mas como algo que precisa ser feito nos momentos de tranquilidade macroeconômica, com o ímpeto humano e empresarial. Ao mesmo tempo, como disse antes, há uma carência de modelos adequados de aproximação entre universidades e empresas. E ainda não se sabe como resolvê-la. É um problema cultural e complexo. Essa aproximação também dependerá dos métodos de ensino e das práticas que os professores estão usando para ensinar empreendedorismo. Se eu fosse dar uma disciplina assim, por exemplo, convidaria tanto empreendedores que falharam quanto aqueles que tiveram sucesso para darem depoimentos na sala de aula.

A entrevista completa você só confere na Revista Inforuso #7!

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